sexta-feira, 20 de abril de 2018




Nossas águas nessas chuvas.

Meu rio inunda
sua cachoeira transborda
eu te abraço mar salgado de lágrimas
e você, poço doce, em saliva me aquece
Eis que colados, calados, enveludados
Acuro os olhos d`alma
E vejo suas águas mais profundas:
Puro e perene lençol subterrâneo
Na aparência, inacessível
Na essência, tudo que me sacia.

Sábado, 5:20, 14/04/18
Pra Matheus, pra mim


sexta-feira, 16 de março de 2012



carnaval não acabou, escarnio.
eu quero tchuuuuuuu, eu quero tchaaaaa
eu quero tchuktchatchatchuktchuchaaaaaa
descarna, encarna.
encharca, escalda.
alinhava.ponto por ponto. fechou.

desaninhada,desalheada.
então desalinha, abre.
e sangra, sangra, sangra,
carne por carne.
gota por gota.
olho por olho.

metal? não. titanio? humhum.
tilitando, trincando, zoando, entrando, metendo, apertando
um, dois, tres, sete parafusos, vem um na lateral que imprensa.
a menina é sensível, dá mais um valium pra ela dormir.

"tu qué dá a porretada? tem que ser de uma vez só, se não ele alevanta. vá!
pende o bicho que é prumodi ele sangrar.
tira os cachorros e as galinhas, chispa.
oh tania, pega as duas bacia grande, uma pros instistino, bofe e os miolo, e ota pras carne.

carne. me dá o figado que é pra hoje de noite zé, é reveião.
e tem que deixar pras crianças.
será que creuza vem? ou vai pensá que é pra comer jibóia de novo?
e isso é bode véio ou é carneiro? nada, é marranzinha nova, carne boa.
lá as onça comeu tudo, num ficou uma criação pra gente matá.
ói, eu to acabando com a minha, cansei de faze tocaia de onça e todo ano é a merma coisa."

é bom ter um animal assim pra gente matar.
mas quando é agente sozinho, como é?
quem mata quem? come o que? sangra onde?
gota por gota, me vejo espelhando no vermelho.
agora sou eu: animal e carne.
em carne viva, morto por mim,
lambendo o sangue e revivecendo
encurvada, entranhada
ainda tô quente.
(é o sangue que passa).
e agente pensando que o bicho tá morto... fica aí.

a carne é imortal e imoral.
encare, encarne.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

... e assumir esse dragão desengonçado que vive em mim
que já não vive em tempo algum
que já não vive em tempo
esse dragão dançando em contratempo
numa invencionice constante

esse dragão de saia que jorra agua pela boca

que a tudo atende, e a todos compreende
numa diligencia de dragão desastrado
quando lhe vi me vi: eu: monstro enorme em vestes de menina

com rabo de égua
pata de onça
dente de cabra
lingua de vaca
barriga de péssego
coração de gato
olho de peixe
pulmão de gavião
pe de mandioca.

esse eu dragão que quanto mais afunda mais voa
que quanto mais sufoca mais respira
que quanto mais morre mais cresce
que quanto mais dorme mais corre
que quanto mais deseja mais ama
Eu dragão da anatolia em eterna melancolia de por-de-sol.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Farpas de fevereiro

AR... de malas prontas aguardando que Saturno me venha buscar. Ou será Janaína?

REVOLUcionar: redimensionar o tempo, adequar os segundos a nossa pulsação interna, sincronizar os passos da corrida para o metro ao movimento circular e retornático do sangue no corpo, fazer do cafe, almoço e janta contuinuidades dos pulssos da saliva e do esvaziar ronquico do estomago.
revoluCIONAR: tomar para si, tomar pe das coisas, decidir, ter em si, ter um filho de si, fazer-se filho de si, lamber a si mesmo como cria momumental. acolher-se.

Favas de fevereiro

fevereiro começa com 2: abre-se com ondas calmas o mês para os mergulhadores mais profundos. janaina acolhe quem se aprofunda e traz às margens depois. é mês ligeiro fevereiro, é brincante, reticente, mes de organizar e desorganizar pro ano que virá. mês dos peixes e dos aquarios, mês que engole dias e gentes. mes que tomo no colo e cuido, embalando-o faço parir a mim mesma dia 25, lambo e cheiro a cria o ano inteiro. viva fevereiro!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Lisboa, doce Lisboa...

... e lisboa, agora, lisboa! que boa, que boa, que boa Lisboa, que gostosa.... ele a encontrara ainda dorminhoco, mas ja arrumara o ninho e tb norteara os primeiros voos a sua volta.

as casinhas de principe real são esmeradas, velhas e nobres, sujinhas, mas sempre com plantinhas nas sacadas, sempre sacadas, sempre varandas. as senhoras parecem uma mistura de peruas com sertanejas.os moços são guapos, morenos, olhavam nos olhos e pareciam tudo lhe servir. as moças com falar lusitano sensual, sussurravam e eram grossas, até que o primeiro sorriso lhes abria as faces. (a intimidade é fundamental para acessar os sorrisos dos habitantes desta cidade lisboa). fizemos tantas e quantas sopas, tomamos tantos e quantos vinhos, passeamos, vimos a lua e ela estava cheia, em cima de um frio gelado, úmido e de vento. largo do rato, mirador, rua das amoreiras, avenida da liberdade, marques de pombal, rual alvares cabral, shopping colombo, esquina dom pedro, o brasil é o orgulho portugues e espinha da identidade lusitana.
estamos felizes em lisboa, subimos e descemos as ladeiras, babamos nos doces, tomamos vinho, filmes na cinemateca, mais vinho ou café na taberna. e voltamos ao ninho: porões da casa palacete da travessa monte do carmo. onde internet não pega direito, mas há uma calma! há, uma calma e um silencio que so se interrompem com a conversa rusguenta de dona ivone e dona odete que entre um "pois pois" e um "ora pois" decidem que vao por as cortinas da nossa porta com bainhas longas e que vai ter um candeeeiro na minha cabeceira. Lisboa, doce e perdida lisboa...

domingo, 26 de dezembro de 2010

Manhã

HAVIA UMA MANHÃ
guardada para elas. despojaram-se de tudo, embreagadas e risonhas partiram para o mar. nadaram tanto no mar como na lua, acomodando seus olhos na luminosidade ideal. eram três ninfas de prazer despretencioso e seus pezinhos batiam ligeiros embaixo d`água, seus sorrisos eram faceiros e os assuntos suscediam na calma e sonolência e na alegria suave do amanhecer continuado que estavam. Era um momento repleto das fantasias de verão: sol fresquinho, lua permanente, brisa suave, espaço pra se desmanchar na areia em gotas de chimarrão e assuntos amenos, apenas ocupando-se em derramar a alegria em excesso da noite passada para tornarem-se a ser elas mesmas: meninas ninfas mulheres de peitos largos, amores derretidos e olhares cheios de intenções de vida, apenas vida nesse estado límpido em que parece o mar do porto de manhãsinha. Macio mar, macia lua, macia brisa, fazendo ainda mais macias as peles das ninfas salgadas despidas nos colchões do dia seguinte.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Glup. glup. glup.

   Tem mais ar dentro do que fora.

                Tem mais serenidade acordada que dormindo,

Acordar tem sido invariavelmente passaporte ao onírico.

                               Reinventar não tem me trazido agonia das revoluções,

            O script pode simplesmente não existir.

Salve! Tem umas bolhas frescas de lucidez
no meio do mormaço delirante dos dias de verão.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Flerte em São Paulo

Me promete que você vai escrever tudo isso?

E enquanto ela mijava por entre dois carros apertados ele se esticava por entre as grades de um prédio de uma transversal paulista. As transversais paulistas lhe disseram tanto porque aí se consolidava sua perspectiva e percepção de vida: nao tinha fim, nada tinha fim. Tudo bem que o mundo clamava por começo, meio e fim e uma separação totalmente desnecessária de todas as vivências, e as vivências de suas reflexões mas a paulista lhe mostrava que nao tinha fim, nem limite, que tudo podia ser construído e novas demarcações surgiriam sempre. E que podiamos correr de swether por entre os prédios bussness, high business, e ali tb podiamos beber cerveja e delirar.

Vc promete que vai escrever tudo isso?

E enquanto ele lhe perguntava isso as paredes em sua frente aumentavam e apenas recordavam a grande divisão entre cidade alta e baixa de Salvador, entre a favela e o asfalto do Rio, o que lhe remeteu à grande avenida e à misteriosa continuidade do sem fim. Em sua pergunta insistente ele tangenciava o insondavel das histórias de amor, que seguem infinitas por nossas vidas, mesmo depois de aparentemente findas. Talvez por isso tivessem seguido por aquela ruazinha durante horas em busca da performer de body art, onde a cada passo eram remetidos a novas atmosferas, novos prédios, novas pessoas, sabores, sensasões, odores, amores. A cada quadra arremessavam-se novas vivências e a transmutação de tudo era tão natural quanto era a reprodução no mundo primitivo. A coexistencia que experimentavam não era apenas de situações, coisas, pessoas e idéias diferentes, mas de tempos, espaços, dimensões, velocidades diferentes.

Promete, promete para mim que vc vai escrever tudo isso?

E já não havia xixi na rua, nem havia rua. Havia um samba quente onde papos viravam passos hiperbolicos e sorrisos e sonhos. As ultimas cervejas, o bar fechando, a policia normatizando e a vida se abrindo, os olhos deixando o externo para o interno, o relaxamento, o combustivel e alimento de outro dia. Os dias sucedem raivosos em São paulo, corajosos, impositivos, afirmativos.

Vai escrever tudo isso?
Não. Vida vivida não gera estética possível nem total.
A cada linha negocio com as palavras pra que elas delimitem com carinho o infinito.
Igualmente as ambições virando prédios e redemarcando constantemente o horizonte paulista.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Derivações da amora

e quer saber mais? se as amoras amorecem, os limoes limonecem e as peras perecem, e se muitas uvas houvessem para cantar o carinho rosado das moças maçãs, graviolas engravidariam e cupuaçus copulariam com melancias meladinhas e melões cheios de senões. E adiante mangas mangariam de tanta fartura a saudar o verão que evém... cheio de gosto e disposto.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aproximações onivisionárias: segunda parte

O novo ser que se criava onivisionario vinha de fertilizações múltiplas, vetores paralelos, mas tridimensionalmente paralelos. Sentiam nascer em seus pés, braços, ventre, bacia, escápulas, nuca, cintura, batatas, pelos e linguas explosões de amor constantemente. Não reconheciam fronteiras porque seus olhos íntegros demarcavam sempre novos tempos e espaços. Estavam sempre juntos e sempre em si, por isso a saudade nao lhes movia, porque nao iam, nem vinham, nem chegavam, nem partiam, nem saiam, nem entravam, eles estavam. E cada espaço e tempo e sensação era profundamente parte deles.

Vou chegar mais perto para entender: quando mergulhavam na água diluiam-se, quando voavam transpiravam o ar, quando caiam na lama (ah, como adoravam cair na lama! era gostoso brincar com uma consistencia tao parecida com suas peles) na lama dissolviam-se, e se a temperatura esquentava um pouco mais seus corpos tornavam-se chamas, labaredas e brasas.

Não, eles nao tinham formato, eram absoluta adaptação e isso os tornava diferentes... diferentes? nao, eles nao eram vaidosos... voláteis? superficiais? conectados? não. Na verdade tinham algumas palavras que eles usavam apenas para ser chique tomando drink, mas eram mesmo arcaicas e nao faziam sentido. Mas como eram bufões às vezes seguiam falando palavras loucas em situações absurdas.

ah, agora me cansa descrevê-los....

Disseram que passaram por ali e por aqui, meio trupe de saltimbancos, meio poetas, meio mágicos, meio cantadores de desafios, meio peixes, meio árvores, meio batatas doces rizomáticas de surpreendentes aparições, meio mosaicos reluzentes, meio corais molhados de água do mar e dizem até que meio lago de llinólio porque uma vez foram atravessados por todo petróleo do mundo e choraram linólio...
eram sensiveis, mas sabiam digerir, expirar, filtrar e destilar as sensações...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

é tempo de amoras

A diferença entre uma amora amadurecer e amorecer é apenas a sugestao de tornar-se dura dentro dela.
Em minha versão amora na vida, prefiro com o tempo amorecer, que me sugere amar e ser, amanhecer.
Além do que o cachinho da amora é infinito em sua pequeninice, o que me sugere incontáveis gomos tornando-se apetitosos incessantemente, e mais: gomos vermelhos.

Mãe, olha que bonito, sua filhota crescendo: sinto amoras sendo dentro de mim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Afeto onivisionário, primeira parte

... e com que delicadeza eles amavam. sem eira, nem beira, sem margem, sem centro, sem pé nem cabeça. tudo eles faziam para não esmagar o pequenino passarinho encantado que eles tinham nas mãos. corriam daqui pracolá, mas também se olhavam por dentro. era tao dentro que chegava a ser fora: iam pro mundo com as mãos enormes e tascavam tapa lascivo nas bundas transeuntes e acariciavam os rostos alheios, e seus olhos eram grandes e redondos - sim, todos temos olhos redondos, mas nem todos olham redondo pro mundo redondo. eles eram os primeiros seres onivisionários do mundo, mas nao sabiam que eram os únicos. mergulhavam tanto que emergiam de si, pelo outro lado. aliás, pelo mesmo lado, porque eram contínuos, eram fluxos de desejo infinito e por isso eles não compreendiam o dentro e o fora, o lado de lá e o de cá, o infantil e o velho, o coberto e o descoberto. eles eram pulsantes e o número de suas costelas e vétebras nao lhes diziam nada porque também não compreendiam os números, só as potencias ao quadrado - eram de uma matemática mais avançada esses onivisionários. eles amavam e o amor era o jeito de saciar a enorme fome que sentiam. fome de si que os faziam comer o outro porque também nao havia separação entre eles e o outro: atravessavam-se mutua e constantemente a qualquer tempo em qualquer espaço. podiam estar a quilometros de distância, podia haver uma guanabara entre eles mas seus olhares se cruzavam, se fertilizavam.
acho que se fosse pra falar filofoficamente eles eram o começo da coragem, o primeiro grunido do bicho, a primeira inspiração do poeta, o primeiro lapso do bêbado, o primeiro sorriso do recem nascido, o estalar da casca do ovo que anuncia a vida.
eles eram a criação de tudo, recriação de si... 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sobre panos ao vento

Ela veio se despedir na minha porta com ar humilde: fingia acreditar que ninguem a olharia, mas como? se tinha tanto pano a encobrir-lhe mostrando-a como voal de cortina de vento? era pelo vento que se enamorara e por isso eram panos que lhe ofertava no interesse putanesco de verem subir as saias, arremessando odor fertil nas ruas, mostrando a carne branca. E sentiria ela as caricias que em dias de mormaço tanto suplicava. (mas iansã é voluntariosa e até gosta de ver o ser amado sofrer um bocadinho e lhe valorizar a presença). Se apaixonar pelo vento tinha a vantagem de fazê-la respirar o amor, mesmo ele estando parado, o que lhe provocava certo tesão na vigilia do sono. E se o vento lhe soprava um pouquinho mais no frio, vinha os arrepios, a pele eiriçava mas continuava macia de amor saciado.

Escolhemos nossos amantes e ela escolhera o vento, que embora estivesse sempre de passagem, exercendo sua virtude libertária, estaria também sempre com ela, exercendo sua natureza onipresente.

Mas o que ela achava sobre o que ele fazia na verdade mesmo só importava quando, por uma greve de vento, daquelas que mesmo respirando não o sentimos, ele nao a atendia.
Porque era urgente essa mulher de panos e eram largos seu quadril e seus desejos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dama do Apocalipse

E porque seria eu a escolhida para falar?
Todos nós somos escolhidos, nos resta escolher a voz que vai nos atravessar.
Escolhi a voz da dama - de natural soberania porque não compreende a submissão.
Escolhi a ladainha dos mundos despedaçados, dos futuros auspiciosos, em narrativa descontínua.
Falarei pela dama e anunciarei o apocalipse, em sua versão trágica e cômica, diluído no devir cotidiano de cada segundo. Apocaliptico é o tempo por natureza, porque se esvai, seja ele preenchido pelo maravilhoso ou pelo horrendo. A dama anunciará tudo que nos escapa.
Aqui minha dama poderá celebrar a vida em suas labaredas, e o amor em suas brasas.
A dama será bem vinda em sua beleza e feiura, em sua inteligencia e torpor, em sua vergonha e coragem.
Ela será senhora e vadia, certeira e distraída, dormirá nos palácios e nas calçadas, servirá e será servida.
Mas será sempre uma dama
Bem vindos serão os acompanhantes, mal vistos os representantes, venerados os entregues.
Se enredem, se divirtam. Raros são os acessos aos delírios de uma dama.