quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Flerte em São Paulo

Me promete que você vai escrever tudo isso?

E enquanto ela mijava por entre dois carros apertados ele se esticava por entre as grades de um prédio de uma transversal paulista. As transversais paulistas lhe disseram tanto porque aí se consolidava sua perspectiva e percepção de vida: nao tinha fim, nada tinha fim. Tudo bem que o mundo clamava por começo, meio e fim e uma separação totalmente desnecessária de todas as vivências, e as vivências de suas reflexões mas a paulista lhe mostrava que nao tinha fim, nem limite, que tudo podia ser construído e novas demarcações surgiriam sempre. E que podiamos correr de swether por entre os prédios bussness, high business, e ali tb podiamos beber cerveja e delirar.

Vc promete que vai escrever tudo isso?

E enquanto ele lhe perguntava isso as paredes em sua frente aumentavam e apenas recordavam a grande divisão entre cidade alta e baixa de Salvador, entre a favela e o asfalto do Rio, o que lhe remeteu à grande avenida e à misteriosa continuidade do sem fim. Em sua pergunta insistente ele tangenciava o insondavel das histórias de amor, que seguem infinitas por nossas vidas, mesmo depois de aparentemente findas. Talvez por isso tivessem seguido por aquela ruazinha durante horas em busca da performer de body art, onde a cada passo eram remetidos a novas atmosferas, novos prédios, novas pessoas, sabores, sensasões, odores, amores. A cada quadra arremessavam-se novas vivências e a transmutação de tudo era tão natural quanto era a reprodução no mundo primitivo. A coexistencia que experimentavam não era apenas de situações, coisas, pessoas e idéias diferentes, mas de tempos, espaços, dimensões, velocidades diferentes.

Promete, promete para mim que vc vai escrever tudo isso?

E já não havia xixi na rua, nem havia rua. Havia um samba quente onde papos viravam passos hiperbolicos e sorrisos e sonhos. As ultimas cervejas, o bar fechando, a policia normatizando e a vida se abrindo, os olhos deixando o externo para o interno, o relaxamento, o combustivel e alimento de outro dia. Os dias sucedem raivosos em São paulo, corajosos, impositivos, afirmativos.

Vai escrever tudo isso?
Não. Vida vivida não gera estética possível nem total.
A cada linha negocio com as palavras pra que elas delimitem com carinho o infinito.
Igualmente as ambições virando prédios e redemarcando constantemente o horizonte paulista.

2 comentários:

  1. Lindo Jô!! Entre a vida e as palavras, preferimos a vida!

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  2. "Havia um samba quente onde papos viravam passos hiperbolicos e sorrisos e sonhos." Genial...Bjos, Sean

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