... e com que delicadeza eles amavam. sem eira, nem beira, sem margem, sem centro, sem pé nem cabeça. tudo eles faziam para não esmagar o pequenino passarinho encantado que eles tinham nas mãos. corriam daqui pracolá, mas também se olhavam por dentro. era tao dentro que chegava a ser fora: iam pro mundo com as mãos enormes e tascavam tapa lascivo nas bundas transeuntes e acariciavam os rostos alheios, e seus olhos eram grandes e redondos - sim, todos temos olhos redondos, mas nem todos olham redondo pro mundo redondo. eles eram os primeiros seres onivisionários do mundo, mas nao sabiam que eram os únicos. mergulhavam tanto que emergiam de si, pelo outro lado. aliás, pelo mesmo lado, porque eram contínuos, eram fluxos de desejo infinito e por isso eles não compreendiam o dentro e o fora, o lado de lá e o de cá, o infantil e o velho, o coberto e o descoberto. eles eram pulsantes e o número de suas costelas e vétebras nao lhes diziam nada porque também não compreendiam os números, só as potencias ao quadrado - eram de uma matemática mais avançada esses onivisionários. eles amavam e o amor era o jeito de saciar a enorme fome que sentiam. fome de si que os faziam comer o outro porque também nao havia separação entre eles e o outro: atravessavam-se mutua e constantemente a qualquer tempo em qualquer espaço. podiam estar a quilometros de distância, podia haver uma guanabara entre eles mas seus olhares se cruzavam, se fertilizavam.
acho que se fosse pra falar filofoficamente eles eram o começo da coragem, o primeiro grunido do bicho, a primeira inspiração do poeta, o primeiro lapso do bêbado, o primeiro sorriso do recem nascido, o estalar da casca do ovo que anuncia a vida.
eles eram a criação de tudo, recriação de si...
Hum...parece que os vi esses dia por aqui...
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